segunda-feira, 21 de setembro de 2015

REBAIXAMENTO DO BRASIL NO GRAU DE INVESTIMENTO




PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira - 21/09/2.015
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

REBAIXAMENTO DO BRASIL NO GRAU DE INVESTIMENTO
Um dos assuntos nos últimos dias no Brasil. Globo News Painel, tendo como âncora William Waack e convidados os economistas Mailson da Nóbrega, ex-Ministro da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros e Raul Velloso esmiuçou as diversas facetas do episódio. A sinopse forma o corpo da coluna de hoje,  a íntegra pode ser acessada no link http://globosatplay.globo.com/globonews/v/4463825/
William -  Maílson, A S&P tinha razão ao propor o rebaixamento do Brasil?
Maílson -  Poucas pessoas tinham dúvida disso, o erro pode ter sido no timing, eu, por exemplo, não esperava que fosse tão rápido. Tudo indica que a remessa ao Congresso do Orçamento com déficit disparou o processo. O Brasil, atualmente, tem um risco superior ao da Rússia.
William -  Em que medida a gente tem que levar seriamente o que uma agência de risco diz a respeito dum país como o Brasil?
Barros -  Neste momento tem que levar a sério, porque, ao contrário de 2.008, as agências já vem levantando esta preocupação com a falta de rumo da economia brasileira, onde ocorre uma piora sistemática.
William – A, agência procedeu de maneira correta ao alertar o mercado?
Velloso – Acho correto, estamos numa situação muito difícil, a deterioração foi muito rápida. Nos últimos dois anos em que houve o esgotamento do modelo que vinha sendo praticado a ponto de não podermos mais administrar a dívida pública.
William – Para a S&P justificar a retirada da nota de crédito do Brasil, além dos problemas econômicos, o que agrava é a situação política do Brasil. Não está sendo catastrofista?
Maílson – Não, eles estão considerando a situação explosiva na relação entre a dívida pública e o PIB, que é o principal indicador de solvência do setor público. Como se reverte esta situação? Adotando medidas estruturais que revertam a situação e isso requer liderança política, capacidade de articulação, de diagnóstico, de formulação e eu não estou vendo isto neste governo que se encaminha a uma situação sem controle entre a dívida e a situação fiscal, perde a gestão macroeconômica e o Banco Central perderia a capacidade de controlar a inflação.
Velloso – Nas crises anteriores havia uma relação vinda de fora e nesse clima se angariava força de união para combater. Agora a situação é interna e isso impede o governo de sugerir medidas excepcionais como a recriação da CPMF.
Barros – Acresça-se que no passado a carga tributária era baixa, no início dos anos 90 era de 22%. Hoje o governo é fraco, as causas são internas e a carga tributária alta, 36%, rumando para 37%. Dificulta o ajuste nos impostos e o corte nas despesas, muito difícil de fazer. Como resultante temos uma situação instável, ora se propõe uma coisa, ora outra, está muito desorganizado.
Velloso – É óbvio que o governo ainda não se convenceu que gasta demais.
Maílson – Se você está num país com a liderança política adequada, você olha para o Ministro da Fazenda e para o Ministro do Planejamento, porém nós estamos numa situação tão difícil e complexa que estamos sendo movidos por uma certa irracionalidade. Estamos contra o aumento da tributação porque estamos contra e, ou encontramos um meio de aumentar a arrecadação ou vamos para um descontrole fiscal grave, porque o corte dos gastos tem limites. As comparações com os orçamentos das famílias com os dos governos têm suas limitações.
Velloso – Poder-se-ia examinar os desvios fraudulentos, por exemplo, 75% as bolsas de defeso na pesca o são, o mesmo se aplica, em maior ou menor grau, ao auxílio doença e seguro desemprego. Há necessidade de reformular a Previdência em todos os níveis. Para pedir aumento de impostos, tem que assinalar com contenção de despesas, principalmente as fraudulentas, e aí aparecem desde as menores às gigantescas falcatruas. E o governo até agora não fez nada.
A curto prazo a CPMF poderá ser uma solução paliativa, mas, se não for acompanhada de reformas estruturais será insuficiente. Nos últimos 10 anos o governo mantém um aumento de despesas de 9%. Enquanto o PIB e a arrecadação acompanhavam de perto foi sustentável. Com o aumento da dívida pública, está se tornando inviável. Agora o aumento do PIB inexiste e os gastos continuam acelerando
William – Vocês acham que o trem bateu na parede, a sociedade brasileira entendeu e está disposta a discutir o que realmente importa ou seja, vamos parar de gastar o que não podemos?
Maílson- Bater na parede é um pouco forte, seria o desastre, chegamos a uma situação insustentável e muito do que está acontecendo foi previsto pelos analistas e o governo fez ouvidos moucos. Até há pouco algumas válvulas disfarçavam a gravidade, agora não tem mais nenhum desses disfarces e chegou a horada verdade. Eu acho que a sociedade brasileira começou a perceber que tem um problema grave. O Brasil, desde 1.983 despreza o princípio que rege as contas públicas, que é vincular a despesa com a receita e a sociedade brasileira apoiou essa barbaridade, esta falha estrutural gigantesca. Se em nossa vida particular temos de nos ater ao que percebemos, não é racional afundar no cheque especial e nos cartões de crédito, por quê admitimos que o governo o faça?
A atual estrutura de distribuição de valores, uns justos, inadiáveis e indispensáveis como as aposentadorias e a bolsa família, desde que controlados sistematicamente para evitar irregularidades, outros são simplesmente “bondades” injustificáveis das ditas irregularidades ou pura e simplesmente corrupção, passiva ou ativa, inclusive com fins eleitoreiros. Mais de 55% da população participa, de uma maneira ou de outra dessas benesses, lícitas ou não. Como não há almoço grátis, recebemos agora a conta impagável e,  apesar disso, muitos não querem fechar as torneiras.
Velloso – Dois obstáculos gigantescos para mudar a estrutura falida são:
1.     Exatamente o eleitorado que seria atingido por uma revisão da maneira como até agora foram levados a efeito os gastos públicos é o eleitorado que elege os políticos que lutam para as mudanças não acontecerem.
2.      Nós tivemos até agora um motor de crescimento no qual as pessoas não necessariamente deixaram de acreditar. O boom de elevação do nível de vida é visível, os custos desmesurados e que precisam ser estancados são subjacentes e a maioria não os vê, ou se vê, não acredita na gravidade.
O resultado perverso da política econômica dos últimos anos chegou ao fim da linha. Tem 10 estados que não pagam a folha de salários e vem mais por aí. O peso da crise destruiu a possibilidade de sair dela.
O outro lado, os beneficiários do atual processo, está encastelado em direitos e benefícios muito difíceis de serem removidos. O Congresso, normalmente, se ocupa de quatro coisas por ano: Um é o aumento do salário mínimo, outro é o reajuste das aposentadorias acima de 1 salário mínimo, o terceiro é o reajuste do funcionalismo e o quarto é o reajuste da bolsa família. Isso é o que o Congresso faz.
Maílson – Eu concordo que o modelo se esgotou e também concordo que há grupos poderosos e interesses que podem se opor à mudança, mas também acredito que a sociedade vai empurrar o sistema político para tomar uma decisão e que a situação ainda vai piorar. O Brasil não vai  recuperar tão cedo seu grau de investimento, o esforço é para evitar um novo rebaixamento e se este ocorrer, a situação vai ficar mais dramática. Precisamos ampliar a conscientização de que realmente temos um problema e que temos de enfrenta-lo.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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