terça-feira, 31 de outubro de 2023

HIGIENE

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

HIGIENE

Os cuidados com a higiene pessoal são muito antigos. Há mais de 6.000 anos, na Mesopotâmia, já se falava na importância da higiene para a conservação da saúde. No Egito antigo se fazia misturas de cinza e argila perfumada para uso dos familiares dos faraós em banhos diários.

Os avanços e recuos dos hábitos de higiene pessoal formam um gráfico tipo “samba do crioulo doido”, dependendo inclusive das localizações geográficas. Um caso excepcional foi protagonizado pelo rei Luís XIV, da França: tomou dois banhos durante sua vida adulta. Ele sofria de convulsões e seu médico recomendou um banho terapêutico, em 1565, aos 27 anos. Não aguentou e o processo teve de ser interrompido, teve dor de cabeça o resto do dia. Os médicos tentaram novamente no ano seguinte, mas sem sucesso. O trauma foi o suficiente para afastá-lo da água pelos seus 49 anos seguintes.

A aversão dos europeus à higiene pessoal só se dissolveu com o desenvolvimento da teoria dos germes. Em 1882, Thomas Koch defendeu o que atualmente já aprendemos no ensino fundamental: micro-organismos causam doenças. O sabão consegue eliminar essas criaturas microscópicas.

Quem já tomava banho continua com o hábito; quem não tomava passou a praticar o saudável hábito.

Atualmente nossa higiene pessoal resulta de um conjunto superveniente de diversas culturas e regiões geográficas. O hábito brasileiro de tomar banho diariamente resultou do exemplo fornecido pelos indígenas brasileiros que cortavam os cabelos, se depilavam, usavam produtos vegetais como o óleo de andiroba e extrato de pitanga, que atualmente são usados na indústria da higiene pessoal. Tomavam banho diariamente enquanto os europeus, um ou dois banhos por ano, apenas como recomendação médica, conta Eduardo Bueno. Eles achavam que a peste penetrava no corpo pelos poros e a sujeira servia de obstáculo para as doenças.

Os hábitos dos brasileiros se sofisticaram após a Segunda Guerra Mundial durante o governo Juscelino Kubitchek que promoveu a abertura econômica do País. Grandes indústrias dos Estados Unidos permitiram o acesso a produtos como desodorantes, cremes de barbear, sabonetes e absorventes íntimos femininos. Foi um salto gigantesco que nos levou aos hábitos higiênicos que temos hoje.

Ignaz Phillips Semmelweis, um médico húngaro, em 1846, no Hospital Geral de Viena, o maior e melhor hospital do mundo na época, foi nomeado diretor-chefe dos assistente e se dedicou a investigar o motivo do grande número de mortes em parturientes. Instruiu os médicos que saíam das salas onde realizavam necropsias e se dirigiam às onde se ocorriam os partos, SEM LAVAR AS MÃOS, fato que possibilitava o contágio da febre puerperal nos três dias após o parto. Mortal, fato reconhecido desde o tempo de Hipócrates. Semmelweis instituiu a obrigação de lavarem as mãos com uma solução clorada e... bingo! A taxa de mortalidade caiu para 1,9% nos meses subsequentes,

Por conta do entendimento na época, suas ideias foram rejeitadas pela comunidade médica. Somente décadas depois uma explicação científica foi possível por meio da teoria dos germes (na época acreditava-se que os “miasmas” - maus ares - originários dos pântanos causavam as doenças).

Destacamos em diversos pontos desta coluna a grande influência que a descoberta dos micro-organismos patogênicos teve na universalização dos banhos e uma figura ímpar que refulge sobremaneira: Ignaz Semmelweis. Por um desses acasos fortuitos, o grande difusor dos riscos representados pelos micróbios, foi vítima deles. Veio a óbito em resultado de uma septicemia originária de um ferimento durante uma necropsia.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


FALÁCIA DO DÉFICIT ZERO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

A FALÁCIA DO DÉFICIT ZERO

É uma falácia afirmar que o “mercado” quer o ajuste fiscal, equilíbrio entre a receita e despesa, com a finalidade de lucrar mais. É justamente o contrário, os bancos alavancam seus lucros quando há déficit porque o governo se obriga a pagar mais com os juros em ascensão. Quanto maior for a “gastança” incontrolada, melhor para o sistema bancário.

Durante a entrevista que o ministro Haddad concedeu no dia 30 de outubro de 2023 podia-se ver nitidamente o seu semblante contrafeito. Imprensado entre o seu compromisso com o ajuste das contas federais e a puxada de tapete que a afirmação, com um ano de antecedência, do presidente Lula ao afirmar peremptoriamente que o “déficit zero” não seria alcançado em 2024.

O presidente Lula sabe muito bem que anunciar investimentos, reajustes salariais, aumento de gastos em educação e saúde são música para o ambiente sindical, principal base de seu eleitorado. O problema é que quando efetuado sem caber no orçamento geram déficit e, com isso, a elevação dos juros não tem como ser evitada e a inflação estruge. Outro fato que não pode ser esquecido, foi o governo quem propôs o déficit zero para 2024 e ao afirmar, já em 2023, que esta é uma meta irrealizável, como Haddad e Simone Tebet terão argumentos para encarar o Congresso e pedir aprovação de medidas necessárias para manter a Economia nos trilhos sem descarrilhar?

O ministro Haddad enfrentou sérias resistências ao ser anunciado, mas conseguiu paulatinamente projetar uma confiança crescente com suas atitudes coerentes em vários setores e sua permanência é estimulada em consenso. Hoje, se for substituído apesar dos seus acertos, provocará desalento em pessoas e organizações que vislumbram um futuro risonho se esboroando passo a passo devido às declarações inadequadas do presidente Lula.

Em entrevista Haddad quando questionado, quatro vezes, sobre a incongruência verificada entre o equilíbrio econômico e financeiro prometidos – ajuste fiscal – e as declarações do presidente Lula, que deixou transparecer não concordar com as restrições que seriam impostas aos gastos do governo, emparedado, o ministro não garantiu a manutenção das metas adredemente anunciadas – buscar o equilíbrio fiscal com medidas coerentes – mas reafirmou que manterá suas convicções seguindo uma linha econômica ortodoxa na qual acredita para promover o equilíbrio das contas públicas. “Continuo acreditando na importância de promover o equilíbrio financeiro das contas públicas porque este é o caminho a ser seguido para obter os resultados desejados. Preciso do apoio político do Congresso e do Judiciário que até agora tenho obtido”.

Manter o nível o nível de investimentos públicos em obras é uma prioridade absoluta do presidente Lula e isso não combina com a exigência de déficit zero em 2024. Considerando ser objetivo essencial formar uma base eleitoral ampla, não se cogita falar em contingenciamento de gastos.

Porém, como diz o provérbio popular: “Não dá para assobiar e chupar cana”.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

IMPOSTO DO PECADO

 

 

IMPOSTO DO PECADO

A vida em sociedade tem parâmetros que precisam ser respeitados para que possa transcorrer sem que ocorram desajustes inerentes às condições diversificadas dos cidadãos. Não é aceitável que todos tenham deveres  equipolentes em todos os setores. Como gravar impostos de igual abrangência para pessoas que percebem um salário mínimo e nababos para os quais quantias astronômicas (no pensar dos menos abonados) são “tiradas de letra” e sequer causam preocupação? De forma análoga, será plausível fazer competirem numa maratona cidadãos comuns contra atletas de elite? Faz-se necessário, não diria separar o joio do trigo, mas exigir de cada qual a contribuição possível e justa para que a roda da vida gire de maneira suportável para todos.

Todo este preliminar para abordar o projeto de reforma tributária que tramita no Congresso Nacional visando a criação de um imposto seletivo sobre bens considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. O tributo já foi apelidado de “imposto do pecado”, embora eu considere exagerada a denominação. É bem verdade que cigarros, bebidas alcoólicas e pesticidas, entre outros, representem itens reconhecidamente danosos, serão taxados com alíquotas maiores pela lei em estudos.

Antes de “bater o martelo” sobre o imposto seletivo os parlamentares brasileiros deverão adotar precauções para não incidirem em erros difíceis de serem corrigidos a posteriori. O novo imposto precisa ser baseado em fundamentos essencialmente técnicos, caso contrário poderíamos incluir até o açúcar e produtos ultraprocessados de uso comum no rol dos atingidos. Não pode ser guiado por gostos pessoais ou posições ideológicas. O aspecto saúde pública terá relevância, mas a seletividade dos produtos terá de levar em conta a cadeia de produção, a geração de empregos e o equilíbrio inflacionário. Como já diziam os latinos: “in médio stat virtus” (a virtude está no meio).

Constatamos também que já há em nossa legislação alguns tópicos que abrangem essa diversificação. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), em 2001, demonstra que 42,7% do preço da cerveja, por exemplo, corresponde a impostos; no cigarro é de 83,3% e em alguns importados a taxação também extrapola a média.

O Brasil não estará inovando em nível mundial. Espanha e Holanda cobram impostos diferenciados sobre automóveis; Alemanha, Itália e Portugal sobretaxam apostas e loterias; a Dinamarca penaliza chocolates e sorvetes; até bebidas não alcoólicas, como o café, estão sujeitas a sobretaxas em alguns países.

Na hipótese de haver uma radicalização sem freios, podemos penalizar a nossa Economia, criação e manutenção de empregos, etc. e caímos no outro extremo. Tentando equalizar com uma contribuição heterodoxa o gravame nos mais ricos para aliviar as classes desfavorecidas, podemos decair na insolvência econômica do país, na inflação descontrolada e, como se diz, “sair da frigideira para cair nas brasas”. Como afirmei no texto, “in médio stat virtus”.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

 


segunda-feira, 2 de outubro de 2023

ALVÍSSARAS

 

PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

ALVÍSSARAS

Este grenalismo extremado que, neste século, caracteriza a política brasileira precisa ser exorcizado pois age como areia numa engrenagem. Emperra e corrói as peças que movimentam não apenas a economia como a relação entre as pessoas. Não nos consideramos adversários, tornamo-nos inimigos figadais.

Com júbilo me refiro a duas notícias que nos dão um vislumbre de esperança nas fímbrias do horizonte:

1.- Marcele Decothé da Silva, assessora especial de assuntos estratégicos do Ministério da Igualdade Social, foi demitida da pasta. Qual o motivo da decisão extrema tomada pela ministra Anielle Franco? Marcele Decothé da Silva debochou e ofendeu a torcida do São Paulo de Futebol. “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade... pior de tudo, paulista”. Escreveu esta diatribe nas redes sociais, usando inclusive adjetivos em linguagem neutra.

A ministra telefonou para os presidentes do São Paulo e da Torcida Independente para pedir desculpas. Em nota disse: “As manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do ministério”.

2.- Depois de meses de árduo trabalho de mediadores e um ponto percentual de juros a menos, o presidente Lula aceitou receber Roberto Campos Neto, que preside o Banco Central desde 2018 e tem mandato até o fim do ano. O encontro ocorreu no dia 27 de setembro e serão o primeiro entre os dois no Palácio do Planalto desde que Lula assumiu a presidência da República.

Dois dias antes de tomar posse Lula se reuniu com Campos Neto e, segundo assessores, não foi um bom encontro. Discordando frontalmente da taxa de juros alta e desgostoso com a impossibilidade legal de demitir o presidente do Banco Central, a conversa foi seca.

Nos meses seguintes atacou Campos Neto, rotulou-o como “tinhoso” e “teimoso” pelo fato de não permitir uma queda substancial na taxa Selic.

Campos Neto chegou a mandar sinais para ser recebido por Lula e reclamou pelo fato de tomar conhecimento dos nomes cotados para a diretoria do BC pela imprensa. O principal intermediário do encontro do dia 27 de setembro foi o ministro da Fazenda Fernando Haddad, que em muitos momentos atuou como bombeiro.

O principal sinal que se pode tirar da reunião é o da maturidade política. Aponta para um porvir com menos aspereza. O futuro se vislumbra mais ameno nas relações e, também, mais produtivo nos resultados. Convenhamos, quem melhor pode planejar os ásperos caminhos da Economia são os economistas que se abrigam no Banco Central e isto é reconhecido universalmente. Não podemos crer que haja brasileiros dispostos a levar a economia  nacional para a derrocada por picuinhas políticas, nem que executivos, por motivos de convicções pessoais se recusem a constatar o óbvio: “Ao Legislativo cabe a tarefa de legislar, ao Judiciário dirimir disputas, ao Executivo comandar a nação e aos técnicos, de todas as áreas, indicarem as melhores soluções”. Com TODOS exercendo suas funções com seriedade, ombro a ombro, teremos os resultados possíveis e um futuro promissor.

                                                                                  Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado