“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
HIGIENE
Os cuidados com a higiene
pessoal são muito antigos. Há mais de 6.000 anos, na Mesopotâmia, já se falava
na importância da higiene para a conservação da saúde. No Egito antigo se fazia
misturas de cinza e argila perfumada para uso dos familiares dos faraós em
banhos diários.
Os avanços e recuos dos
hábitos de higiene pessoal formam um gráfico tipo “samba do crioulo doido”, dependendo inclusive das localizações
geográficas. Um caso excepcional foi protagonizado pelo rei Luís XIV, da
França: tomou dois banhos durante sua vida adulta. Ele sofria de convulsões e
seu médico recomendou um banho terapêutico, em 1565, aos 27 anos. Não aguentou
e o processo teve de ser interrompido, teve dor de cabeça o resto do dia. Os
médicos tentaram novamente no ano seguinte, mas sem sucesso. O trauma foi o
suficiente para afastá-lo da água pelos seus 49 anos seguintes.
A aversão dos europeus à
higiene pessoal só se dissolveu com o desenvolvimento da teoria dos germes. Em
1882, Thomas Koch defendeu o que atualmente já aprendemos no ensino
fundamental: micro-organismos causam doenças. O sabão consegue eliminar essas
criaturas microscópicas.
Quem já tomava banho
continua com o hábito; quem não tomava passou a praticar o saudável hábito.
Atualmente nossa higiene
pessoal resulta de um conjunto superveniente de diversas culturas e regiões
geográficas. O hábito brasileiro de tomar banho diariamente resultou do exemplo
fornecido pelos indígenas brasileiros que cortavam os cabelos, se depilavam,
usavam produtos vegetais como o óleo de andiroba e extrato de pitanga, que
atualmente são usados na indústria da higiene pessoal. Tomavam banho
diariamente enquanto os europeus, um ou dois banhos por ano, apenas como
recomendação médica, conta Eduardo Bueno. Eles achavam que a peste penetrava no
corpo pelos poros e a sujeira servia de obstáculo para as doenças.
Os hábitos dos
brasileiros se sofisticaram após a Segunda Guerra Mundial durante o governo
Juscelino Kubitchek que promoveu a abertura econômica do País. Grandes
indústrias dos Estados Unidos permitiram o acesso a produtos como desodorantes,
cremes de barbear, sabonetes e absorventes íntimos femininos. Foi um salto
gigantesco que nos levou aos hábitos higiênicos que temos hoje.
Ignaz Phillips
Semmelweis, um médico húngaro, em 1846, no Hospital Geral de Viena, o maior e
melhor hospital do mundo na época, foi nomeado diretor-chefe dos assistente e
se dedicou a investigar o motivo do grande número de mortes em parturientes.
Instruiu os médicos que saíam das salas onde realizavam necropsias e se
dirigiam às onde se ocorriam os partos, SEM LAVAR AS MÃOS, fato que
possibilitava o contágio da febre puerperal nos três dias após o parto. Mortal,
fato reconhecido desde o tempo de Hipócrates. Semmelweis instituiu a obrigação
de lavarem as mãos com uma solução clorada e... bingo! A taxa de mortalidade
caiu para 1,9% nos meses subsequentes,
Por conta do entendimento
na época, suas ideias foram rejeitadas pela comunidade médica. Somente décadas
depois uma explicação científica foi possível por meio da teoria dos germes (na
época acreditava-se que os “miasmas” -
maus ares - originários dos pântanos
causavam as doenças).
Destacamos em diversos
pontos desta coluna a grande influência que a descoberta dos micro-organismos
patogênicos teve na universalização dos banhos e uma figura ímpar que refulge
sobremaneira: Ignaz Semmelweis. Por um desses acasos fortuitos, o grande
difusor dos riscos representados pelos micróbios, foi vítima deles. Veio a
óbito em resultado de uma septicemia originária de um ferimento durante uma
necropsia.
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado