“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
O ZERO
Uma das mais estapafúrdias afirmações que por vezes
ouvimos: ”NÃO VALE NADA, É
IGUAL A ZERO”. O advento do ZERO pode ser considerado um dos maiores avanços da
história da ciência. Nada foi mais impactante que o ZERO para a possibilidade
de realizar cálculos, que dependem absolutamente dele.
O ZERO teve sua origem em
três povos: babilônios, hindus e maias. O ZERO evoluiu de um vácuo para um
espaço em branco e, finalmente, transformou-se em um símbolo numérico usado
pelos hindus e árabes antigos.
A criação do símbolo para o ZERO se deu por volta do século V d. C.
Ocorreu quando os hindus passaram a representar as quantidades utilizando os
algarismos 0,1,2,3,4,5,6,7,8,9 e o princípio posicional sem a utilização do
ábaco (o precursor das máquinas de calcular, utilizando dez linhas, cada qual
comportando dez esferas que podiam ser deslocadas horizontalmente).
A criação do ZERO pode
ser considerada tão importante para a humanidade quanto o domínio do fogo ou a
invenção da roda.
O ZERO resolveu o
problema da mecanização das operações numéricas, dos cálculos, permitiu a
criação das máquinas de calcular e dos computadores. Basta lembrar que as bases
binárias compostas pelos computadores pelos algarismos 0 e 1 constituem o
fundamento da linguagem computacional.
Até o advento do ZERO
usavam-se os algarismos romanos para representar
e contar quantidades. Os algarismos
romanos não foram criados para desenvolver cálculos, apenas para registrar
quantidades. Não existia o ZERO. Tentem realizar uma simples operação de adição
com algarismos romanos: XVIII
+ LXXIV = XCII. Em algarismos arábicos: 18 + 74 = 92.
A
escrita numérica consegue, com apenas dez símbolos, representar todos os
números, realizar quaisquer cálculos que o cérebro humano possa imaginar.
As primeiras referências
aos algarismos arábicos na literatura mundial encontram-se no Codex Virgiliano, no ano 976. O
matemático italiano Fibronaci contribuiu muito para a difusão na Europa.
Somente com a invenção da imprensa, em 1440, o sistema começou a ser empregado
de maneira generalizada pelos europeus.
Apesar do ZERO ter
possibilitado a resolução de tantos problemas e cálculos, não foi recebido de
braços abertos na Europa quando chegou, trazido pelos árabes. Lembremos que era
oriundo de um povo que adorava outro deus e, logicamente, a Igreja Católica
Romana não via com bons olhos qualquer ingerência que pudesse abalar os
alicerces da “ciência” que defendia ferrenhamente. Basta lembrar que Copérnico,
Galileu Galilei, Giordano Bruno e tantos outros foram julgados e condenados por
heresia.
Os freios que tentam impedir
a ciência de desbravar caminhos, driblar obstáculos, resolver questões
aparentemente insolúveis e, principalmente confrontar ideologias, crenças,
superstições... retardam, mas não podem impedir o progresso. Sempre foi assim e
continuará sendo, ontem, agora e no futuro. Negacionismos, (lembrem as
dificuldades, em todo o mundo, de convencer as pessoas a se vacinarem contra a
Covid), partam donde partirem, acabam sendo reduzidos à sua devida estatura e num
soterramento inglório.
“É
a prova de uma mente inferior o desejar pensar como as massas ou como a
maioria, somente porque a maioria é a maioria”. (Giordano
Bruno) E ele tem razão, nem sempre a
maioria é dona da Verdade e da Justiça. Admitindo a maioria como verdade
absoluta, bastaria, por exemplo, um plebiscito entre os membros de uma facção
para admitir como fato irretorquível que as vacinas em crianças de 5 a 11 anos
são dispensáveis e, pior, podem causar efeitos secundários perigosos
(miocardite). Voltando no tempo, Pôncio Pilatos deixou a cargo da maioria
ululante a escolha entre Barrabás e Cristo. DEU NO QUE DEU!
Pode parecer um paradoxo
a Igreja Católica Romana ter sido simultaneamente o repositório da ciência na
Idade Média, preservando conhecimentos fundamentais quando monges copistas
salvaram obras que embasam conhecimentos. Por outro lado, a tentativa –
frustrada ao final – de sobrepor a fé, os dogmas e a Bíblia aos avanços da
ciência que advinham de povos que professavam outras religiões, costumes e
filosofias. A China nos legou a pólvora e o papel. Ambos importantes nos seus
setores, ambos aparentemente incompatíveis se analisados preconceituosamente.
Ao fim e ao cabo se integraram e provaram que poderiam ser maiores juntos que a
soma das partes.
Encerro com declarações
do Papa Francisco e Voltaire, símbolos edificantes de líderes libertos das
peias tantas vezes inibidoras do encontro da VERDADE.
Em
13/03/2017 o Papa Francisco fez um dos pronunciamentos que ficarão marcados na
sua trajetória já tão impactante:
Não é necessário crer em Deus para ser uma pessoa boa. De certa forma, a ideia tradicional de Deus não está atualizada. Alguém pode ser espiritual, porém não necessariamente religioso. Não é necessário ir à igreja e dar dinheiro. Para muitos, a natureza pode ser uma igreja. Algumas das melhores pessoas da história não criam em Deus, enquanto que muitos dos piores atos se praticaram em seu nome.
No
outro extremo, o ateu Voltaire também deu testemunho de que antípodas podem concordar no essencial:
PRECE PELA TOLERÂNCIA – Voltaire
Não é mais aos homens que me
dirijo É a Você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos. Que os erros agarrados à nossa natureza não sejam motivo de nossas
calamidades.
Você
não nos deu coração para nos odiarmos nem mãos para nos enforcarmos.
Faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida
penosa e passageira Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos
corpos, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas e nossas
opiniões insensatas não sejam sinais de ódio e perseguição. Que aqueles que acendem velas em pleno dia
para Te celebrar, suportem os que se contentam com a luz do sol Que os que cobrem suas roupas com um manto branco para dizer que é
preciso Te amar, não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto negro.
Que aqueles que dominam uma pequena parte desse mundo, e que possuem
algum dinheiro, desfrutem sem orgulho do que chamam poder e riqueza e que os
outros não os vejam com inveja, mesmo porque Você sabe que não há nessas
vaidades nem o que invejar nem do que se orgulhar. Que
eles tenham horror à tirania exercida sobre as almas, como também execrem os
que exploram a força do trabalho Se os
flagelos da guerra são inevitáveis, não nos violentemos em nome da paz Que todos os homens possam se lembrar de que são irmãos!
Jayme José
de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado