Coluna publicada em "www.litoralmania.com.br", 07/09/2018.
http://www.litoralmania.com.br/o-futuro-ja-chegou-jayme-jose-de-oliveira/
PONTO E CONTRAPONTO - por
Jayme José de Oliveira
“Por
mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
O FUTURO QUE
JÁ CHEGOU (1)
A medicina já foi definida como “um
conjunto de verdades provisórias”. Quando as doenças eram consideradas castigos
que os deuses impunham à humanidade pelos seus pecados, os sacerdotes,
curandeiros e charlatães se arrogavam o direito de curá-las ou interceder
perante as divindades.
Hipócrates
é considerado o pai da medicina moderna e iniciador da observação científica. A
evolução atravessou estágios até a prática hodierna. ESTAMOS NO LIMIAR DO CONSIDERADO
FICÇÃO. NÃO É. O FUTURO JÁ CHEGOU.
Em três colunas procurarei expor as
últimas conquistas e algumas que estão por vir. O “Correio do Povo”
(04/08/2018) me fornece alguns dos dados que seguem, outros foram obtidos em
consultas ao Google.
“Novas técnicas e procedimentos até
pouco tempo consideradas obras de ficção científica proporcionam um salto de
qualidade na Medicina e muitos desses avanços já são utilizados em instituições
de Porto Alegre”.
E se você conseguisse viver com seu o
coração parado durante a recuperação de um problema gravíssimo de saúde? Neste
período de atendimento, que pode variar de poucos dias a semanas, o paciente
ficaria em coma induzido, o equipamento faria 100% da operação do coração. O
médico faria uma impressão em 3D de seus órgãos e faria a cirurgia em um
ambiente virtual podendo antever as possíveis complicações.
ISSO JÁ EXISTE E É REALIZADO OU ESTÁ EM FASE DE TESTES EM INSTITUIÇÕES
DE PORTO ALEGRE.
A MUDANÇA GENÉTICA
Estudos que beiram filmes de ficção
científica estão em andamento no Centro de Pesquisa Experimental do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA) envolvendo a edição genômica. Os
primeiros resultados se mostram positivos. Na prática é feita a correção de uma
alteração (ou mutação) genética. Isso evita o desenvolvimento de um tipo de
doença. Há um longo caminho a percorrer até essa técnica ser aplicada em
pacientes humanos. O mesmo caminho pode ser trilhado antes do nascimento para
prevenir doenças genéticas hereditárias. No futuro poderão ter um caráter
curativo além do preventivo. Quando empregado no
tratamento do câncer atinge apenas as células doentes e não as demais, sadias,
amenizando os efeitos colaterais, garantindo melhor resultado e recuperação do
paciente. A identificação e tratamento
de um gene ou mudança na formação genética permite evitar o desenvolvimento de
uma doença no futuro. Estamos
vencendo desafios da Medicina e tornamos possível o até agora impossível.
MICROBIOTA – SUAS CÉLULAS NÃO HUMANAS
Por incrível que isso pareça, as
células humanas perdem em número para as não humanas em nosso organismo. Um
homem de 1m70 pesando 70 kg possui 30 trilhões de células próprias e 39
TRILHÕES DE BACTÉRIAS, a maioria localizadas no aparelho digestivo. Levam o nome
de “microbiota”. Fossem todas inertes ou benéficas poderiam formar uma
associação de simbiose, onde ambos se beneficiam mutuamente. Como uma parcela é
patogênica, causa doenças, por vezes fatais, cumpre separar o joio do trigo.
Vírus, fungos e outros micro-organismos se situam nesse lado. Outras são
indispensáveis à vida. Auxiliam na digestão, algumas sintetizam a vitamina K2
essencial à coagulação do sangue. Há um terceiro grupo, e neste podemos citar a
“Escherichia coli”, que são bactérias bacilares normalmente encontradas no
trato gastrointestinal inferior. Podem tanto causar graves intoxicações
alimentares como serem benéficas a seus hospedeiros ao produzirem a citada
vitamina K2, inclusive, impedem a instalação de bactérias patogênicas.
Imagine só: Você tem mais bactérias dentro do seu
corpo do que células humanas.
É isso mesmo. Não
adianta fazer cara de nojo. Se você desmontar o corpo humano inteiro, célula
por célula e separar o que é bactéria de um lado e homem do outro, os micróbios
ganham de lavada.
A desproporção
passa despercebida porque seu tamanho é muito menor, no conjunto elas podem
pesar até 4 quilos!
A maior parte dos
micróbios vive no sistema digestivo. O intestino grosso é uma verdadeira
salsicha de bactérias - a chamada flora intestinal. E isso é ótimo, elas são
essenciais para a nossa capacidade de digerir certos carboidratos complexos e
para outros serviços metabólicos em geral, como a reabsorção da água e
nutrientes pelo intestino.
Trata-se de uma
relação benéfica para ambos os lados. As bactérias prestam seus vários serviços
digestivos (sem elas não conseguiríamos digerir o amido, por exemplo, um
importante carboidrato de batatas e cereais) e, em troca, recebem carta branca
para viver dentro de nós sem serem importunadas. De alguma forma o sistema
imunológico, que normalmente ataca qualquer coisa estranha que aparece pela
frente, reconhece que essas bactérias são benéficas e permite que fiquem por
lá. Os cientistas não sabem exatamente como isso funciona.
Estudos indicam que
seria possível viver sem a ajuda dessas criaturinhas, mas nossa dieta
precisaria ser bastante diferente.
Por meio de pesquisas os cientistas
podem usar a biotecnologia e a modificação de genes para desenvolver produtos
que auxiliem no combate a doenças (drogas) ou evita-las (vacinas), criando
produtos transgênicos que, além de evitarem alergias, são mais baratos, obtidos
em escala industrial e podem ter sua estrutura modificada para melhorar sua
performance.
Um grande avanço da medicina foi a
produção de insulina humana utilizando bactérias. A insulina é essencial para
doentes de diabetes. Descoberta em 1.921 por Frederik Banlin. Produzida
utilizando pâncreas de animais e seu efeito não era tão eficiente como a
humana, além de, frequentemente provocar reações alérgicas. Com a transferência
de genes também é possível produzir hormônios humanos como o do crescimento.
Atualmente as vacinas produzidas por transgenia predominam, exemplo: a vacina
H1N1 contra a gripe, distribuída gratuitamente para grupos de risco anualmente.
Cientistas da Universidade de Cork, na
Irlanda, descobriram que bactérias da espécie “Lactobacillus ramnosus” eram
capazes de alterar o comportamento de ratos melhorando sua capacidade em
atravessar labirintos. Também ficaram com o nível de stress diminuído por
reduzirem em 50% a produção de corticosterona, uma substância que o
desencadeia. As bactérias mexeram com o “segundo cérebro”, que por sua vez
influenciou o cérebro principal. Abre-se a possibilidade de, no futuro,
produzir antidepressivos em forma de iogurte.
Estudos da interação das bactérias com
o tratamento de diversas doenças continuam em andamento, porém, como explica
Dan Waitzberg, professor de medicina da USP, é preciso aprofundar os estudos.
O jogo da humanidade com as bactérias
pode, no máximo, terminar empatado. Não devemos ceder, mas também não podemos
querer exterminá-las. Afinal elas são parte de nós. A maior parte.
Os dados que embasam esta coluna
foram pesquisados na revista Superinteressante, edição 362 e no Google.