segunda-feira, 4 de abril de 2022

O ZERO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

O ZERO

Uma das mais estapafúrdias afirmações que por vezes ouvimos:            ”NÃO VALE NADA, É IGUAL A ZERO”.                                                         O advento do ZERO pode ser considerado um dos maiores avanços da história da ciência. Nada foi mais impactante que o ZERO para a possibilidade de realizar cálculos, que dependem absolutamente dele.

O ZERO teve sua origem em três povos: babilônios, hindus e maias. O ZERO evoluiu de um vácuo para um espaço em branco e, finalmente, transformou-se em um símbolo numérico usado pelos hindus e árabes antigos.                                                                                                                    A criação do símbolo para o ZERO se deu por volta do século V d. C. Ocorreu quando os hindus passaram a representar as quantidades utilizando os algarismos 0,1,2,3,4,5,6,7,8,9 e o princípio posicional sem a utilização do ábaco (o precursor das máquinas de calcular, utilizando dez linhas, cada qual comportando dez esferas que podiam ser deslocadas horizontalmente).

A criação do ZERO pode ser considerada tão importante para a humanidade quanto o domínio do fogo ou a invenção da roda.

O ZERO resolveu o problema da mecanização das operações numéricas, dos cálculos, permitiu a criação das máquinas de calcular e dos computadores. Basta lembrar que as bases binárias compostas pelos computadores pelos algarismos 0 e 1 constituem o fundamento da linguagem computacional.

Até o advento do ZERO usavam-se os algarismos romanos para representar e contar quantidades. Os algarismos romanos não foram criados para desenvolver cálculos, apenas para registrar quantidades. Não existia o ZERO. Tentem realizar uma simples operação de adição com algarismos romanos:                                                                                                                     XVIII + LXXIV = XCII. Em algarismos arábicos: 18 + 74 = 92.

A escrita numérica consegue, com apenas dez símbolos, representar todos os números, realizar quaisquer cálculos que o cérebro humano possa imaginar.

As primeiras referências aos algarismos arábicos na literatura mundial encontram-se no Codex Virgiliano, no ano 976. O matemático italiano Fibronaci contribuiu muito para a difusão na Europa. Somente com a invenção da imprensa, em 1440, o sistema começou a ser empregado de maneira generalizada pelos europeus.

Apesar do ZERO ter possibilitado a resolução de tantos problemas e cálculos, não foi recebido de braços abertos na Europa quando chegou, trazido pelos árabes. Lembremos que era oriundo de um povo que adorava outro deus e, logicamente, a Igreja Católica Romana não via com bons olhos qualquer ingerência que pudesse abalar os alicerces da “ciência” que defendia ferrenhamente. Basta lembrar que Copérnico, Galileu Galilei, Giordano Bruno e tantos outros foram julgados e condenados por heresia.

Os freios que tentam impedir a ciência de desbravar caminhos, driblar obstáculos, resolver questões aparentemente insolúveis e, principalmente confrontar ideologias, crenças, superstições... retardam, mas não podem impedir o progresso. Sempre foi assim e continuará sendo, ontem, agora e no futuro. Negacionismos, (lembrem as dificuldades, em todo o mundo, de convencer as pessoas a se vacinarem contra a Covid), partam donde partirem, acabam sendo reduzidos à sua devida estatura e num soterramento inglório.

“É a prova de uma mente inferior o desejar pensar como as massas ou como a maioria, somente porque a maioria é a maioria”. (Giordano Bruno)     E ele tem razão, nem sempre a maioria é dona da Verdade e da Justiça. Admitindo a maioria como verdade absoluta, bastaria, por exemplo, um plebiscito entre os membros de uma facção para admitir como fato irretorquível que as vacinas em crianças de 5 a 11 anos são dispensáveis e, pior, podem causar efeitos secundários perigosos (miocardite). Voltando no tempo, Pôncio Pilatos deixou a cargo da maioria ululante a escolha entre Barrabás e Cristo. DEU NO QUE DEU!  

Pode parecer um paradoxo a Igreja Católica Romana ter sido simultaneamente o repositório da ciência na Idade Média, preservando conhecimentos fundamentais quando monges copistas salvaram obras que embasam conhecimentos. Por outro lado, a tentativa – frustrada ao final – de sobrepor a fé, os dogmas e a Bíblia aos avanços da ciência que advinham de povos que professavam outras religiões, costumes e filosofias. A China nos legou a pólvora e o papel. Ambos importantes nos seus setores, ambos aparentemente incompatíveis se analisados preconceituosamente. Ao fim e ao cabo se integraram e provaram que poderiam ser maiores juntos que a soma das partes.

Encerro com declarações do Papa Francisco e Voltaire, símbolos edificantes de líderes libertos das peias tantas vezes inibidoras do encontro da VERDADE.

Em 13/03/2017 o Papa Francisco fez um dos pronunciamentos que ficarão marcados na sua trajetória já tão impactante:

Não é necessário crer em Deus para ser uma pessoa boa.                      De certa forma, a ideia tradicional de Deus não está atualizada.                                                                                     Alguém pode ser espiritual, porém não necessariamente religioso.       Não é necessário ir à igreja e dar dinheiro.                                               Para muitos, a natureza pode ser uma igreja.                                           Algumas das melhores pessoas da história não criam em Deus, enquanto que muitos dos piores atos se praticaram em seu nome.

No outro extremo, o ateu Voltaire também deu testemunho de que  antípodas podem concordar no essencial:

PRECE PELA TOLERÂNCIA – Voltaire

Não é mais aos homens que me dirijo                                                      É a Você, Deus de todos os seres, de todos os mundos e de todos os tempos.                                                                                                     Que os erros agarrados à nossa natureza não sejam motivo de nossas calamidades.                                                                                      Você não nos deu coração para nos odiarmos nem mãos para nos enforcarmos.                                                                                                Faça com que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo de uma vida penosa e passageira                                                                          Que as pequenas diferenças entre as vestimentas que cobrem nossos corpos, entre nossos costumes ridículos, entre nossas leis imperfeitas e nossas opiniões insensatas não sejam sinais de ódio e perseguição.     Que aqueles que acendem velas em pleno dia para Te celebrar, suportem os que se contentam com a luz do sol                                    Que os que cobrem suas roupas com um manto branco para dizer que é preciso Te amar, não detestem os que dizem a mesma coisa sob um manto negro.                                                                                           Que aqueles que dominam uma pequena parte desse mundo, e que possuem algum dinheiro, desfrutem sem orgulho do que chamam poder e riqueza e que os outros não os vejam com inveja, mesmo porque Você sabe que não há nessas vaidades nem o que invejar nem do que se orgulhar.                                                                             Que eles tenham horror à tirania exercida sobre as almas, como também execrem os que exploram a força do trabalho                          Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos violentemos em nome da paz                                                                                              Que todos os homens possam se lembrar de que são irmãos!

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado