terça-feira, 11 de maio de 2021

FICÇÃO CIENTÍFICA NÃO É FICÇÃO

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

FICÇÃO CIENTÍFICA NÃO É FICÇÃO

A HISTÓRIA, como a conhecemos, iniciou com a descoberta da escrita. Os dados coletados puderam ser arquivados para futuras consultas de maneira segura e não sofriam as deformações inevitáveis na divulgação oral (quem conta um conto aumenta um ponto).

Escribas possuíam grande destaque social, eram os repositórios da cultura, inclusive da religião. Não é por outro motivo que aos monges copistas se entregou a tarefa da produção dos manuscritos que preservaram a civilização.   

A descoberta dos tipos móveis por Gutemberg, em 1542 permitiu a impressão do primeiro livro, a Bíblia, da qual restam 48 exemplares. Foi o primeiro passo da literatura, que se expandiu até se transformar no que hoje conhecemos.

A ficção científica foi considerada durante muito tempo uma literatura de segunda classe, coisa de visionários quando, na realidade, foi uma grande impulsionadora do progresso da ciência. Lembro Júlio Verne (1828-1905) em seu pensamento que se revelou profético: “Tudo o que um homem pode imaginar outros homens poderão realizar”.

O telefone celular era considerado ficção. O capitão Kirk de Star Trek (Jornada nas Estrelas), quem não lembra? “Vinte Mil Léguas Submarinas”, o submarino Nautilus (Júlio Verne) era movido a energia atômica quando sequer se conhecia a fissão do átomo. “Da Terra à Lua” (1865), foguetes apenas eram usados como fogos de artifício, propulsores de veículos aéreos? Ficção de “lunáticos”. Etc. (Júlio Verne previu, NO SÉCULO XIX, viagens espaciais e motores de fissão quando nem se tinha como supor possível. A verdade seguiu os passos da ficção e JAMAIS deixará de fazê-lo).

Cito dois expoentes:

Arthur C. Clarke, lembram a série Cosmos? “A única maneira de se definir o limite do possível, é ir além dele, para o impossível”. Foi o inventor dos satélites geoestacionários, que permanecem sempre no mesmo ponto da superfície da Terra, acompanhando sua rotação. Base de toda a comunicação via satélite, inclusive a internet.

Isaac Asimov (1920-1992), o maior de todos. Apaixonado pela noção dos robôs, esse americano nascido na Rússia criou em 1942 as famosas Três Leis da Robótica, que exorcizaram o temor de que os robôs se revoltassem contra o homem, seu criador, e o relegassem a um segundo plano ou, até, o destruíssem.                                                                                                                                                 1ª Lei – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.                                                                                                                                                            2ª Lei – Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto em casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei.                                                                           3ª Lei – Um robô deve proteger a sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira ou a segunda lei.

É possível, SIM, introduzir num cérebro positrônico essas salvaguardas, tão possível como delimitar as funções dos atuais computadores. Uma vez feito isso, ninguém poderá remanejar um robô de modo transformá-lo num combatente sem freios. Só construindo tudo e novo, com outros parâmetros, uma obra que, esta sim, se situa no âmbito ficcional.

A ficção científica realiza a proeza de refletir as preocupações da época em que é escrita, e, ao mesmo tempo, antecipa situações do futuro – situações que, com frequência impressionante, se transformam em realidade. O próximo passo, o sistema 5G, logo mais o 6G e, mais adiante... difícil  imaginar o limite.

HÁ LIMITE?

Se isso não é literatura de primeiríssima linha, não sei mesmo o que é.

P.S.: Alguns dados desta coluna foram compilados na revista Superinteressante, março de 2020.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado


UMA PESCARIA INESQUECÍVEL



PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura

 

 

UMA PESCARIA INESQUECÍVEL

 

O autor é James P. Lenfestey, confira e reflita.

 

Ele tinha onze anos e, a cada oportunidade que surgia ia pescar no cais próximo ao chalé da família numa ilha que ficava em meio a um lago.

A temporada de pesca só começaria no dia seguinte, mas pai e filho saíram no fim da tarde para pegar apenas peixes cuja captura estava liberada.

O menino iscou e começou a praticar arremessos provocando ondas coloridas na água, logo elas se tornaram prateadas pelo efeito da lua nascendo sobre o lago. Quando o caniço vergou, soube que havia algo enorme no outro lado da linha.

O pai olhava com admiração enquanto o garoto habilmente e com muito cuidado erguia o peixe exausto da água. Era o maior peixe que já tinha visto, porém a pesca só era permitida na temporada. O garoto e o pai olharam para o peixe, tão bonito, as guelras movendo para trás e para frente.

O pai, então, acendeu um fósforo e olhou para o relógio. Pouco mais de dez da noite... Ainda faltavam quase duas horas para o início da temporada. Em seguida, olhou para o peixe e depois para o menino, dizendo:

- Você tem de devolvê-lo, filho!

- Mas, papai, reclamou o menino.

- Vai aparecer outro, insistiu o pai.

- Não tão grande como este, choramingou a criança.

O garoto olhou à volta do lago. Não havia outros pescadores ou embarcações à vista. Voltou novamente o olhar para o pai. Mesmo sem ninguém por perto sabia, pela firmeza de sua voz, que a decisão era irrevogável. Devagar, tirou o anzol da boca do enorme peixe e o devolveu à água escura. O peixe movimentou rapidamente o corpo e desapareceu. Naquele momento, o menino teve certeza que jamais pescaria um peixe tão grande como aquele.

Isso aconteceu há trinta e quatro anos. Hoje o garoto é um arquiteto bem sucedido. O chalé continua lá, na ilha em meio ao lago e ele leva os filhos para pescar no mesmo cais. Sua intuição estava correta. Nunca mais conseguiu pescar um peixe tão maravilhoso como o daquela noite. Porém, sempre vê o mesmo peixe todas as vezes que se depara com uma questão de ética. Porque, como o pai lhe ensinou, a ética é simplesmente uma questão de CERTO e ERRADO.

Agir corretamente, quando se está sendo observado, é uma coisa. A ética, porém, está em agir corretamente quando ninguém nos está observando. Esta conduta só é possível quando, desde criança, se aprende a DEVOLVER O PEIXE À ÁGUA.

 

Ah! Se cada um de nós souber devolver seu peixe na hora da tentação, o mundo em geral, o Brasil em particular e, principalmente, cada um de nós será, não apenas melhor, mas poderá ao fim da noite repousar a cabeça no travesseiro. E ISSO É O MAIS IMPORTANTE NA VIDA!

Cada um de nós tem a oportunidade de, amiúde ver-se na contingência de optar entre devolver ou recolher um peixe fisgado de maneira ilegal. Os que abdicam do proveito imoral e veem os circunlóquios que políticos utilizam para alcançar objetivos a qualquer preço estão estarrecidos com o que se escancara em Brasília. O pior, infelizmente verdadeiro, é que ambos os lados que disputam nossa preferência se esmeram em segurar o peixe sem o menor resquício de dúvida, hesitação. REMORSO? HONORABILIDADE? ESSAS PALAVRAS NÃO CONSTAM NO DICIONÁRIO DELES.

 






Jayme José de Oliveira

cdjaymejo@gmail.com

Cirurgião-dentista aposentado 

sábado, 8 de maio de 2021

JACAREZINHO

 



PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

JACAREZINHO

Mais um confronto sangrento ocorre numa favela carioca, uma operação policial na comunidade de Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro. Causou a morte de 25 pessoas, 24 delinquentes e um policial civil.

Batizada de “Operação Exceptis” a ação começou às 6 horas com intensa troca de tiros.

De acordo com o R7, a polícia fluminense afirmou que os traficantes estão, inclusive, aliciando crianças e adolescentes para integrar o Comando Vermelho. O link anexo no rodapé comprova a ação dos delinquentes e expõe as armas apreendidas.

Isto são fatos.

Analisemos os meandros, as interpretações e as eternas conclusões: mais uma operação violenta e ilegal da Polícia apavora uma favela e o STF foi afrontado pela habitual truculência policial.

O Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, com sede em Genebra, na Suíça, pediu hoje (7) ao Ministério Público que realize uma investigação independente, completa e imparcial de acordo com as normas internacionais da operação na comunidade do Jacarezinho, na zona norte da capital fluminense, que terminou com 25 mortos, entre eles um policial civil. A operação ocorreu ontem,(6/5/2021)) e foi a mais letal na história do estado.

Ilegal porque o STF mantém proibição de operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro. O STF referendou a decisão liminar que proíbe operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante a epidemia da Covid-19, sob pena de responsabilização civil e criminal.

O julgamento aconteceu no Plenário Virtual da Corte, no dia 4 de agosto de 2020. O placar foi de 9 a 2, com a maioria dos ministros acompanhando o voto do relator, ministro Luiz Edson Fachin. Na liminar de junho, o ministro determinou que, enquanto a pandemia perdurar, as operações nas comunidades do Rio só podem ser feitas em situações excepcionais, que deverão ser justificadas por escrito e comunicadas imediatamente ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Seu voto foi acompanhado pelos ministros  Marco Aurélio de Mello, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber, Carmen Lúcia, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Celso de Mello.

A divergência foi apresentada pelo Ministro Alexandre de Moraes, que afirmou não caber ao Poder Judiciário a “vedação genérica” de operações por tempo indeterminado. De acordo com o ministro, a falta de atuação policial “gerará riscos à segurança pública de toda a sociedade do Rio de Janeiro, com consequências imprevisíveis”. Acompanhou a divergência o ministro Luiz Fux.

Exploremos as consequências decorrentes dessa decisão: Estarão as comunidades situadas fora do ambiente do país? Como poderão ser protegidas pelo Estado brasileiro, ou já foram abandonadas, inclusive pelo Judiciário?

Convenhamos, a Constituição de 1988 se esmerou em multiplicar DIREITOS e relegar a segundo pano DEVERES para os cidadãos brasileiros. Para fugir do AUTORITARISMO, herança da ditadura, abjura-se a AUTORIDADE e facilita-se aos delinquentes a IMPUNIDADE. Cito um fato que escancara de maneira inconteste.

Acusado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de guardar 20 mil papelotes de cocaína em uma casa em Cotia (SP), Edson Maximiliano de Lira, 45 anos o Max do PCC, foi preso em flagrante por investigadores da Delegacia de Carapicuiba, mas só ficou um dia preso. A Justiça de Itaperica da Serra mandou soltá-lo, alegando que policiais entraram no imóvel sem mandado e que a casa é abrigo inviolável e ninguém pode penetrar sem consentimento do morador, salvo em flagrante delito, ou desastre, ou durante o dia, por determinação judicial.

Lembro uma recomendação de Getúlio Vargas por ocasião de um conflito que decorria em via pública.  Inquirido por seguidores perguntou:

Os manifestantes são adversários ou correligionários? Se forem adversários, aplique-se a LEI, os rigores da LEI. Se forem correligionários, aplique-se a LEI, os benefícios da LEI.

Similia similibus: se forem delinquentes, aplique-se a LEI, os benefícios da LEI. Se forem cidadãos comuns, aplique-se a LEI, os rigores da LEI.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/video/video-imagens-mostram-homens-armados-pulando-lajes-para-escapar-de-operacao-no-jacarezinho-9492573.ghtml?utm_source=email&utm_medium=newsletter&utm_campaign=g1



 

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

 



segunda-feira, 3 de maio de 2021

CRISTO PRESENTE

 



PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

CRISTO PRESENTE – 03/04/2021

Em todas as épocas o mundo é galardoado com a presença de personalidades ímpares, luminosas, que refulgem acima da multidão e sobressaem sobre aqueles que rastejam na mediocridade, mesmo que enfeixem poderes imerecidos e, ao contrário do que proclamam, travam a civilização, postergam o progresso, o humanismo, a senda determinada pelo Criador.

O Papa Francisco é um destes astros, agradeçamos a sorte de sermos seus conterrâneos.  São dele as palavras que reproduzo:

“Quem disse que Cristo não está presente entre nós, se está vestido de branco, de azul e de verde nos hospitais? Quem disse que o Nazareno não pode fazer sacrifícios se estão todos atendendo enfermos nas urgências? Perceba que mesmo exaustos prosseguem dia e noite.

Caminhoneiros, Comerciantes, Farmacêuticos, abastecem nossas necessidades fundamentais.

O Exército, a Polícia, patrulham as ruas desertas para que possamos viver tranquilos.  Não estão junto às suas famílias para cuidar das nossas. Todos os que labutam para que possamos nos resguardar da pandemia.

Ninguém diga que o Senhor não está presente quando em igrejas solitárias  Sacerdotes celebram Missas sem nos falhar e dando apoio espiritual. 

Jesus vem num caminhão que recolhe nossos dejetos e se vai sem ter sido notado.

Quando vejo tantos enterrando seus entes queridos percebo a Virgem com seu Filho no regaço e ainda que nos assuste aí está Aquele que venceu o Mundo e a própria Morte.

Percebes Cristo em mil rostos ocultos.”

Atravessamos tempos sombrios, não são os primeiros e, certamente, não serão os últimos. A História se repete em ciclos, paulatinamente prosseguimos rumo ao nosso destino e os obstáculos não são intransponíveis, lembremos que o fogo tempera o aço e as vicissitudes enrijessem o nosso caráter.

 

Jayme José de Oliveira

cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

 


sábado, 1 de maio de 2021

COLONIZAÇÕES DÍSPARES

 


PONTO E CONTRAPONTO - por Jayme José de Oliveira

“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.

 

COLONIZAÇÕES DÍSPARES

As condições ambientais, as localizações e os habitantes por si sós não explicam o porquê alguns locais progridem, seus habitantes prosperam e levam uma vida condizente com as necessidades e conforto almejados enquanto outras chapinham num ambiente sub-humano, sem as mínimas condições de uma vida digna.                                                                                                                  Exemplo marcante é a cidade de Nogales, cortada ao meio por uma cerca. Se vieres do norte, verás Nogales, Arizona, Estados Unidos, com uma renda familiar anual de U$ 30 mil, a maioria da população conclui o ensino médio, tem acesso ao Medicare, um sistema de seguros e saúde administrado pelos Estados Unidos e tem acesso à eletricidade, telefonia, sistema de esgotos, malha rodoviária e, importante, lei e ordem. Ao sul da cerca, em Nogales, Sonora, México, muitos adolescentes não vão à escola. Devido à precariedade dos serviços de saúde pública vivem menos que seus vizinhos do norte, não têm acesso a muitos serviços públicos, as estradas se encontram em péssimo estado de conservação, a lei e a ordem não são eficientes e a criminalidade é alta.

A cobiça europeia determinou que Buenos Aires, rica em prata, em 1516 fosse dominada por Juan Diaz Solis. Os charruas no lado uruguaio e os querandis, na banda argentina, não se submeteram e mataram Solis a bordunadas. A fome grassava entre os espanhóis que não se conformavam em trabalhar para obter os alimentos de que necessitavam.                                                                  Em 1537, Juan de Ayolas subiu o rio Paraná e entrou em contato com os índios guaranis, povo sedentário e agrícola que, após breve conflito foi vencido e lá foi fundada a cidade de Nuestra Señora de Santa Maria de Assunción, até hoje capital do Paraguai.                                                         Os primeiros colonos espanhóis, como os ingleses, não tinham o menor interesse em lavrar as terras com as próprias mãos. Queriam riquezas – ouro e prata – para saquear.                                                                              Pizarro, em 1531, chegou à cidade de Cajamarca. O imperador inca Atahualpa dirigiu-se com seu séquito ao local do acampamento dos espanhóis que prepararam uma armadilha, mataram os guardas de Atahualpa e o fizeram prisioneiro. Para ganhar a liberdade prometeu encher uma sala com ouro e duas com prata. A promessa foi cumprida, mas os espanhóis renegaram a sua parte do acordo e estrangularam Atahualpa em 1533. Os tesouros artísticos do Templo do Sol foram arrebatados e fundidos em barras.                                                                                                                           Em 1544 foi a vez da Bolívia, onde havia quantidades espantosas de prata. Fundaram a cidade de Potosi que no seu apogeu, em 1560, contava com 160 mil habitantes, mais que Veneza e Lisboa na época. A mão de obra era requisitada entre a população adulta e, num regime que beirava a escravidão. Este processo gerou muita riqueza para a Coroa espanhola e tornou riquíssimos os conquistadores e descendentes, mas converteu a América Latina e Central no continente mais desigual do mundo e solapou boa parte do seu desenvolvimento econômico.

No decorrer do século seguinte a Espanha colonizaria a maior parte das regiões central, ocidental e sul da América, inclusive o México enquanto Portugal ocuparia o Brasil.

As atrocidades praticadas pelos espanhóis foram descritas pelo sacerdote dominicano Bartolomé de las Casas no seu livro “Brevíssima relação da destruição das Índias”, escrito em 1542, destacando principalmente o sistema de “encomiendas”, assemelhado às “capitanias hereditárias” no Brasil.

É evidente que, ao longo dos séculos e nos mais variados pontos da Terra, as colonizações pelos “civilizados” subjugando os “nativos” se configurou numa desumana, injusta e desproporcional forma de estabelecer “castas”. Não apenas na Índia o povo é separado em agrupamentos que não se miscigenam, como se fossem raças oriundas de etnias diversas (e de certa forma o são). A exploração imposta pelos “colonizadores” se concretizou de modo tão vil e repugnante como entre brâmanes e párias.

 Convém ressaltar, contudo, que nem todos os colonizadores foram tão cruéis como os espanhóis na América e bôeres (oriundos dos Países Baixos, Alemanha e Dinamarca) que se estabeleceram nos séculos XVII e XVIII na África do Sul) e disputaram com os britânicos o comando do país.          O apartheid foi uma chaga indelével que Nelson Mandela e Frederik Willem de Klerk, em 1994 sepultaram, o mais execrável racismo que se tem notícia.

Estas diferenças, voltando ao início da coluna, podem servir de parâmetro para entender como uma cidade separada por uma cerca e habitada por pessoas de diferentes nacionalidades pode ter um estilo de vida tão diverso. A colonização inglesa que consolidou os Estados Unidos e a espanhola, que imperou nas Américas do Sul e Central, são díspares como os estilos de vida das duas Nogales.

As instituições que se basearam na exploração dos povos nativos levaram à criação de monopólios, bloquearam os incentivos econômicos de amplos grupos menos capitalizados – pessoas comuns como a maioria da população ativa. Outra filosofia econômica e administrativa incentivou a capitalização via atrativos para a grande massa da população e esse viés conduziu à prosperidade. Não se pode desprezar o valor que representa para uma sociedade livre a contribuição popular através da compra de ações nas bolsas de valores, ou através de instituições que girem essa poupança, dirigidas por profissionais especializados. Assim, enquanto os Estados Unidos iniciavam a Revolução Industrial que os catapultou ao topo da pirâmide na primeira metade do século XIX, o México empobrecia.

Dados para esta coluna foram coletados no livro “Porque as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu (Professor de Economia do MIT) e James Robinson (professor de Administração Pública da Harward University).

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado